sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Denis Russo Burgierman

O Brasil não presta. Está no buraco, perdido, moralmente falido, saqueado pela corrupção, imobilizado pela complacência, impossibilitado pela ganância, enterrado pelo egoísmo. Você concorda, né? Você também gosta de reclamar do Brasil, não gosta? Eu entendo, reclamar é bom. Dá a mesma sensação de alívio de um palavrão redondo, retumbante, violento.Bom, mas eu tenho uma novidade pra você. Prepare-se, porque não vai ser bom ouvir isso. É o seguinte: o Brasil é você. O Brasil não são só os atletas na Olimpíada ou na Copa do Mundo. Aqueles são só os melhores entre nós, no que se refere a pular, correr, nadar, jogar. Então, antes de xingar o sujeito que tropeçou na final, ou que chorou, ou que se acovardou, lembre-se de uma coisa. Você, lá, faria pior (afinal, se fizesse melhor, estaria lá).E, antes de reclamar dos políticos – da corrupção deles, do modo como só pensam neles mesmos, na falta de apoio que eles dão a gente fazendo coisas legais – lembre-se de que eles também são os melhores entre nós. Não são? Então por que os escolhemos para serem nossos políticos? Então porque não chutamos a bunda deles e vamos nós lá assumir o que é nosso? Por que não criamos partidos políticos ou blogs ou ONGs ou livros ou revistas ou empresas que digam a todo o mundo o que pensamos? Por que continuamos aqui, reclamando de como o Brasil é ruim, em vez de melhorá-lo?Ah, eu sei por quê. É porque é muito difícil. No Brasil, é muito difícil as coisas. Bom, mas só fazemos algo se for fácil? Ah, então não são só os atletas e os políticos que são preguiçosos, né? Aliás, já que estamos falando nisso, por que é que às vezes fazemos coisas com as quais não concordamos? Ah, é porque todo mundo faz? Entendi. Então parece que não são só os políticos que não têm princípios. E por que mesmo às vezes cedemos mais do que devíamos em troca de dinheiro? Será que os políticos são os únicos corruptos?Temos políticos bem ruins mesmo, nossos atletas podiam levar algumas coisas mais a sério, nossos artistas podiam ser menos arrogantes, nossas elites, menos míopes, e nossos estudantes, menos ingênuos. Mas nós também não somos perfeitos. Então tenhamos humildade.Quando assistimos a uma Olimpíada ou a uma eleição ou a uma Copa do Mundo ou a um campeonato de cuspe à distância, não vamos gastar energia reclamando do quanto os outros são ruins. Vamos olhar pra eles, procurar entender seus erros, entender os acertos dos outros e pensar muito, conversar sobre isso com outras pessoas. Aí, vamos pegar o resultado desse debate e dessa reflexão e tentar melhorar alguma coisa que esteja ao nosso alcance, no nosso trabalho, no nosso bairro, na nossa família. Mais que tudo, esse processo todo vai nos ajudar a melhorar aquilo que mais vale a pena melhorar: nós mesmos.

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