Leandro Ayuso Lourenço está mais próximo dos 30 que dos 25 e tem uma banda. Uma banda bacana, bem bacana, bacana mesmo, uma banda que está na cena há sete anos, a Monaural. O pessoal o chama apenas Ayuso, o nosso Cobain da zona leste. É um cara espontâneo, pra falar a verdade, é um dos caras mais legais que existem pra você contar piada. O negócio é que, com esse sorriso fácil, qualquer causo do papagaio arranca uma larga gargalhada. Isso é carisma, cara.
Ayuso toca desde os 12 anos, é também diagramador desempregado: “É um dilema ser escravo na capital?”, pergunta Ayuso, que responde, “a merda é que não é”.
A Monaural acaba de lançar o primeiro clipe do disco “Expurgo”, e a música escolhida foi “De Nada”. Apesar de eu preferir a “Risca do Zero”, foi uma boa escolha. E o clipe, de baixo orçamento, como qualquer clipe de banda independente – e mais que isso, do underground -, ficou muito bem produzido. São Paulo está cheio de jovens e talentosos cineastas dispostos a encarar pepinos úmidos e agradáveis como este por amor à causa e uma linha a mais no currículo.Aliás, para quem quiser curtir o som dos caras, vai aqui o endereço para baixar as músicas: http://www.monaural.cjb.net/
Abaixo, uma entrevista com Ayuso falando sobre o clipe, a banda, o grunge & outras cositas más.
Você é o frontman da Monaural, uma banda que tenta reviver a sonoridade perdida nos boeiros de Seattle, mas com um toque tupinambá. O que é esse tesão pelos 1990?
A década de noventa para mim foi onde muita coisa aconteceu. Foi quando comecei a ouvir rock ainda adolescente e, para mim, ainda é uma década que possui toda uma identidade especial, tanto sonora quanto visual. E, porra, eu ainda uso minhas calças jeans com correntes na carteira, saca?! Curto minha estigma, negar suas raízes é, no mínimo, estúpido.Aprecio e muito a sonoridade das bandas de rock dessa época. Identifico-me com a maioria delas que fizeram parte dessa maravilhosa cena de Seattle, e foi graças a ela, certamente, que hoje eu faço o que faço do jeito que faço.
Mark Lanegan disse que o grunge teve um lugar no espaço e no tempo, e que aquilo passou. Ele está ficando velho ou a música é mesmo cíclica e bêbada, fica dançando e se reapropriando de sonoridades moribundas enquanto passa pelas décadas?
Eu acho que a arte é livre assim como a música. No caso, o próprio “grunge”, como assim o chamavam, foi um movimento musical inspirado, calcado, e quem sabe reapropriado, eu diria, em outros movimentos que talvez já tivessem se tornados “moribundos”.
O próprio Soundgarden em resenhas de revistas e zines da época, como na conhecida “Spin“, eram citados como os novos LED ZEPELIN´s de Seattle.
Mas então eu te pergunto: se foi assim com o Nirvana, com o Mudhoney, com o Melvins, enfim... todas essas bandas construíram e desenvolveram sua obra em cima de suas referências, ou seja, em cima de sonoridades moribundas, correto? Então o Punk Rock morreu junto com o Rock and Roll?
Eu acredito que não, pois a música para mim é como um quadro. Ela vai estar ali registrada em um disco ou em um cd e basta uma pessoa ouvir para se influenciar e começar um novo movimento e, quem sabe, a sua própria revolução.
Quem foi Kurt Cobain?
Foi um gênio da música pop que revolucionou uma geração rockeira com simplicidade, atitude e sinceridade no que fazia. Era líder do Nirvana, uma das maiores bandas de sua época, e talvez tenha sido um covarde se suicidando por motivos de razões maiores (Heroína). Ou talvez tenha sido assassinado. Para mim Kurt Cobain foi sua própria antítese.
A Monaural é bastante performática, e especialmente você é um cara que se corta no palco, que sangra com a música. Como é isso de interpretar os próprios sentimentos para um bando de malucos se pogando na sua frente?
Eu tento fazer o que tenho aprendido da melhor forma possível, sempre! Quando estou em um show do Monaural eu tento ressuscitar alguns demônios que já estavam mortos dentro de mim, e jogá-los para fora com a mesma intensidade de quando eles surgiram no primeiro instante.Nem sempre temos alguns malucos se pogando na frente do palco, às vezes vejo algumas pessoas inseguras e analíticas demais me observando friamente como se estivessem esperando que eu simplesmente fracassasse ali mesmo para que elas pudessem caçoar de mim, assim, simplesmente por fazer. Minha resposta a isso tudo é chacoalhar ainda mais minha cabeça, fechando assim meus olhos e gritando forte tudo aquilo que sinto naquele momento, para provar para mim, em primeiro lugar, que eu posso dar muito mais do que essas pessoas esperam de mim ali embaixo. E se elas se decepcionaram comigo eu não carregarei esse peso, pois dei o melhor de mim naquela noite.
Como é fazer música, ainda mais com essa pegada grunge, e ser independente numa época de web 2.0?
O processo de criação para mim sempre foi o mesmo desde a época do K7. A diferença para mim, nesse sentido, é que mudaram apenas as mídias. Eu ainda gravo meus riffs em fitas K7 quando acho uma que eu ainda não tenha regravado algo por cima. Agora no sentido de ter uma banda e fazer o som que a gente faz. Eu sinto falta e anseio por boas bandas de rock que ainda usem distorções analógicas pesadas e saibam abusar de microfonias. Acredito que haja muitos jovens, e quem sabe gente da minha idade, assim como eu, que ainda não tenham se transformado em velhos cafonas intelectualóides que se masturbam todos os dias ouvindo jazz contemporâneo.
O lance hoje para mim é fazer o que eu gosto do meu jeito, e tentar mostrar para pessoas assim, que ainda tem gente produzindo “boa” música e abusando de distorções, ou apenas das microfonias.
Vocês acabaram de lançar o primeiro clipe, que, aliás, está disponível logo acima pro pessoal assistir. Porque a “De nada”? Aproveita o ensejo e conta pra gente como foi o processo de produção, como surgiu a ideia e por que, diabos, vocês estão correndo no meio do mato com umas máscaras bizarras e segurando enxadas e tudo mais.
A gente escolheu a “De Nada” por sua sonoridade e por possuir uma identidade forte sem soar muito datada. O processo de produção foi bem interessante e livre, pois já conhecíamos as pessoas envolvidas na produção do clipe e todos eles foram super atenciosos e dedicados do começo ao fim.
A gente tinha a certeza que íamos fazer um clipe, mas não sabíamos 100% como ele iria ser. E precisávamos de um roteiro. Daí surgiu à ideia de fazer uma brincadeira que flertasse com o bem e o mal, algo que ficasse entre o são e o insano. Então tive a idéia de comprarmos umas máscaras e a partir daí as coisas começaram a tomar forma criando uma atmosfera de suspense.
A música “De Nada” fala sobre hipocrisia e vem como uma resposta aos hipócritas.
No geral, o sentido da coisa era não ter “100%” de sentido e assim fazer com que as pessoas acabassem viajando nas imagens subliminares do clipe tirando suas próprias conclusões.
Eu sempre quis correr atrás de alguém segurando uma foice, cara, mesmo que fosse de brincadeira. (risos)
Você já leva um tempo no currículo de músico independente. Quais as perspectivas daqui pra frente?
Bem, pelo menos nesse aspecto não me encontro desempregado e nem empregado, pois não presto serviço de nada que faço para ninguém a não ser a mim mesmo. Porém, não recebo quase nada em troca a não ser satisfação.Sobre as expectativas, acho que agora é curtir essa brisa que o clipe vem nos proporcionando, mas sem perder o foco.Estou produzindo um festival bem irado para o dia 24 desse mês em que vai rolar ótimas bandas do cenário independente, dentro das condições de um mutirão. Minhas perspectivas são continuar fazendo acontecer, produzindo sem esperar! E por conta própria, pois estou aprendendo que só assim as coisas tendem a funcionar. Não quero ter a ilusão de conseguir muita coisa com o que faço, mas também não quero ser um pessimista e morrer encostado reclamando ou apenas se render e mofar na frente de uma televisão.
O Expurgo, último disco da Monaural, tem uma levada pesada, densa, mas com uns toques bem alto astral, diferente daquele pessimismo impregnado nos acordes da geração de Seattle (com exceção do Mother Love Bone, creio). Isso é uma tendência na banda?
Eu não me considero um cara muito ALTO ASTRAL, artisticamente falando, mas a tendência do Monaural daqui a diante é fugir um pouco do introspectivo e mergulhar, explorar mais a fundo “nosso” lado político-filosófico, que acabamos deixando de lado em nossos trabalhos anteriores. Hoje eu me acho muito mais anarquista do que antes. E talvez quem sabe o “alto astral” agora seja uma ótima ferramenta para poder mostrar as coisas que venho vendo e pensado.
Aproveitando o assunto: vocês já estão compondo, ou pensando em compor, um novo disco?
O disco já está em fase de composição sim! Temos algumas músicas novas já finalizadas e em breve iremos jogar na rede um registro que contém uma delas. A minha intenção é segurar a onda no próximo mês com shows e se trancar no estúdio para dar início à concepção das novas músicas.Porém, acredito que a banda venha mudar novamente, pois mudança para mim é sempre algo inevitável quando se assume um processo de evolução.
Que bandas você aconselharia o pessoal baixar e escutar com atenção?
Descobri algumas coisas bem legais nos últimos meses pela internet, myspace, essas coisas...
Uma delas se chama ROCKSONIC, é uma banda austríaca que faz um grunge bem interessante! Também recomendo a PANDORA lá da Bélgica, que curti pacas!
Claro que também temos algumas bandas independentes nacionais bem interessantes, e que muito me agradam, como o LA CARNE, que lançou recentemente o “Granada”, um disco á fuder e, inclusive, vão tocar no Festival Insanidade Coletiva em outubro! Tem o VOLLUPEO, que também lançou recentemente um single chamado “Ninguém vale nada”, que ficou bem massa! Tem o disco novo dos VISITANTES que está bem legal também! Tem o FORTE APACHE daqui de Sampa, tem a LOOMER lá de Porto Alegre que, inclusive, estará em Sampa, se não me engano, em novembro! Quem mais? Curti o muito o Show da nova formação do HIEROFANTE PÚRPURA lá de Mogi, tem o os caras do DRÁKULA lá Campinas, que também ao vivo é embaçado. E, para finalizar, recomendo todos do JAWBOX, todos do FUGAZIi que venho ouvido “pouco”, e também tenho ouvido muito uma banda que descobri a pouco tempo chamada ARCWELDER, que é fudida pra caralho!
Deixa um “Alô” pra todo mundo que não curte a banda.
Odeio mentira e falsidade e prefiro que as pessoas falem o que pensam e o que realmente gostam ou não gostam. Acho isso muito mais digno do que tapinhas nas costas e comprimentos de vontade e intenção duvidosa.
Por: Junior Bellé ( O Gafanhoto)
Confira o Blog: http://gafanhotojr.blogspot.com/
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
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